quarta-feira, novembro 05, 2008

dEUS na Aula Magna [reportagem + fotos]

Numa Aula Magna esgotada, dEUS pôs toda a gente de pé. Um dos melhores concertos da banda belga em terras lusas.
Não é bem um encontro de velhos alunos (porque os novos também acorreram em massa à Aula Magna, previsivelmente cheia), mas um concerto dos dEUS em Portugal convida à muito portuguesa (e nobilíssima) actividade de matar saudades. Esta gente de Antuérpia já há muito que faz parte do retrato da família indie/alternativa/XFM/imensa minoria (as designações a quem as trabalha). Isso nota-se nos olhares de expectativa quando do sistema de som ecoa Kid A , dos Radiohead, nos lábios que reproduzem ipsis verbis as canções que as adolescências prolongadas souberam guardar no coração (ou noutro qualquer recanto de confiança). Já deixámos de as contar, mas esta (décima? vigésima? nonagésima quarta?) vinda dos dEUS a Portugal ainda é festejada como a primeira. 





A estratégia dos dEUS é simples: têm as canções (especialmente a do fresquíssimo Vantage Point e as dos primórdios - In a Bar Under The Sea e Worst Case Scenario vencem), a atitude certa (um ar mais eléctrico do que aquele que evidenciam em disco), o charme do bom e velho rock suspenso pela cinza do cigarro na ponta da boca - eis Tom Barman, camisa azul por dentro de calças de ganga coçadas, colete preto, ténis gastos (sabemos que no Porto, terça-feira, irá usar sapatilhas), boxers um pouco acima da cintura (Ralph Lauren, para os interessados/as), cabelo encaracolado desalinhado, louro pardo, da cor dos cabelos belgas. 







À sua esquerda, o guitarrista Mauro Pawlowski, imperturbável, uma tira de cabelo permanentemente à frente dos olhos. Mais à esquerda, o baixista Alex Gevaert, enérgico. À direita de Barman, Klaas Janzoons, violinista e teclista para todo o serviço. Atrás, Stephane Misseghers, baterista, regular como um relógio suíço. 





O arranque deixou perceber que os dEUS estariam cá não só para mostrar que as canções novas não deslustram ao lado dos "clássicos" que o povo gosta; não se coíbem de fazer "render" objectos de devoção irresistível como "Instant Street", monumento folk em crescendo, que se transforma na maior condensação de matéria "guitarrante" depois do auge dos Jesus & Mary Chain. À segunda canção está toda a gente de pé ("get up!" foram as primeiras palavras a sair da boca de Barman, ainda antes de "When She Comes Down", o início da contenda), absorta por uma electricidade servida em camadas que apetece prolongar sempre um pouco mais. Podiam ser 45 minutos de "Instant Street" que ninguém se importaria. 





"Fell Off The Floor, Man", com a sua rítmica peculiar, não deu descanso - eis os dEUS que nos habituámos a gabar. Adiante, "Theme From Turnpike" reaviva velhas amizades e "The Architect", espécie de funk gingão, prova que os braços se levantam também com as canções de Vantage Point , álbum que pôs os fãs a fazer as pazes com a banda, depois do infeliz Pocket Revolution . 





O fumo que é lançado de palco ganha sentido suplementar aos primeiros acordes de "Nothing Really Ends", canção de fim de noite, balada de aconchego e café a fumegar. Um pouco mais atrevida (electricamente falando) do que a versão em disco (a mais-valia do best-of lançado em 2001), mas a pedir a mesma contemplação. 





Ouve-se aquele violino que parece querer polir paredes encrespadas, é Domingo mas grita-se "Friday!" ininterruptamente: "Suds and Soda", o orgasmo desta relação consentida (friday!), ainda faz das suas. A haver um momento (friday!) que toda a gente está à espera, esse momento é este, cinco tipos que parecem remar para direcções distintas e que se encontram harmoniosamente num refrão que já mudou muitas vidas e há-de mudar muitas mais. Os dEUS sairiam e voltariam para mais cinco canções (entre elas a tensa "For The Roses" e a descomprimida "Serpentine, mais memórias danadas!), apesar de "Suds & Soda" ainda percorrer o sistema circulatório dos mais destemidos. 

Alinhamento 
When She Comes Down 
Instant Street 
Fell Off The Floor, Man 
Slow 
Theme From Turnpike 
The Architect 
Nothing Really Ends 
Bad Timing 
Smoker's Reflect 
Little Arithmetics 
If You Don't Get What You Want 
Suds & Soda 
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Oh Your God 
Serpentine 
For the Roses 
Favourite Game 
Morticiachair 


Fonte @ Blitz

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